terça-feira, 17 de junho de 2014



"Com o coração cheio de expectativas não correspondidas dormia sem vontade de acordar. Foi então que decidiu seguir a já esquecida procura pelo inabitado de si mesmo e acabou achando sensações, canções, perturbações, excitações e evidências de que estava no caminho certo, de que deveria retomar as rédias de seu destino e a certeza de que sua felicidade voltaria a ser prioridade. 

Encontrou o que ainda não havia se permitido viver, achou a essência da sua felicidade hora clandestina, hora permitida, hora planejada, hora inconsequente.

Nessa excursão viveu diversão, achou as janelas abertas da alma que lhe mostravam horizontes infinitos e quis se jogar num vôo sem reservas e sem volta. Do alto de seu salto concluiu que sua procura por si só já era o que buscava."


Natan Gaia


"Há momentos em que tudo o que a gente precisa é dar colo para o próprio coração. Aconchegá-lo. Deixar que perceba que naquele instante todas as outras coisas podem esperar um pouco; ele, não. Ele é o nosso rei e o nosso reino. O papel para desenho e a caixa de lápis de cor. A música e a orquestra. Nossa bússola e nosso mar. A flor, o pólen, a borboleta, ao mesmo tempo. A colméia e o mel. O centro, onde tudo principia e para o qual tudo converge. Ele não pode esperar. O coração da gente gosta de atenção. De cuidados cotidianos. De mimos repentinos. De ser alimentado com iguarias finas, como a beleza, o riso, o afeto. Gosta quando espalhamos os seus brinquedos no chão e sentamos com ele para brincar. E há momentos em que tudo o que ele precisa é que preparemos banhos de imersão na quietude para lavarmos, uma a uma, as partes que lhe doem. E que o levemos para revisitar, na memória, instantes ensolarados de amor capazes de ajudá-lo a mudar a frequência do sentimento. Há momentos em que tudo o que precisa é que reservemos algum tempo a sós com ele para desapertá-lo com toda delicadeza possível.
Coração gosta de espaço."

Ana Jácomo


“Não há quem não feche os olhos ao cantar a música favorita.
Não há quem não feche os olhos ao beijar, não há quem não feche os olhos ao abraçar.
Fechamos os olhos para garantir a memória da memória.
É ali que a vida entra e perdura, naquela escuridão mínima, no avesso das pálpebras.
Concentramo-nos para segurar a dispersão, para segurar a barca ao calor do remo.
O rosto é uma estrutura perfeita do silêncio. Os cílios se mexem como pedais da memória.
Experimenta-se uma vez mais aquilo que não era possível.
Viver é boiar, recordar é nadar.”


Fabrício Carpinejar


"A vida é simples, milagrosamente simples.
A esperança é firmeza. Consiste em seguir adiante mesmo com pânico, mesmo com receio.
Não há como acalmar o coração senão vivendo.
Parece que nunca conseguiremos fazer, mas vamos fazer, acredite, toda a vida foi feita de sustos bons.
Somente tememos o que é importante. Somente temos dúvidas do que é essencial. Somente entramos em crise por enxergar com clareza a dimensão de nossa escolha.
Os riscos valorizam a recompensa."


Fabricio Carpinejar


domingo, 15 de junho de 2014



"Porém, amar é encontrar aquilo que não se procura. Aquilo que surge sem explicação, que não tem lógica, e contra o que não adianta lutar: nenhuma resistência é suficiente. Amar é puro fascínio. Você cruza com uma pessoa que talvez nem equalize com seus sonhos, mas é com ela que se deu o click, o curto-circuito, que algo foi despertado. A mágica está no que não veio por encomenda, nem atendendo a pedidos, nem no momento certo, nem mesmo pegou você de banho tomado – é um flechaço do Cupido, que às vezes é ruim de mira, mas ao menos tem boa intenção."

Martha Medeiros