terça-feira, 6 de maio de 2014

O vento...


"O vento que passou por aqui me descabelou. Rodou minha saia e os pensamentos. Bagunçou as ideias arrumadinhas, sacudiu o meu querer. Levou embora minhas perguntas, driblou minha mania de certezas e afagou minha sede de respostas.

Como brisa que amansa com o tempo, beijou-me os cabelos e acolheu os meus receios. Falou em meu ouvido e me bordou asas grandes. Velou meu sono e me ajudou a levantar cedinho. Vento feito passarinho. Mandou o meu medo voar.

Varreu as dúvidas que prendem os passos, limpou a poeira que a ilusão deixou. Vento brando mas certeiro. Vento sem pressa mas revelador. Deixou vírgulas fora de lugar e reticências em lugar de ponto final.

Fosse o vento algo papável, me daria a mão. Ajudaria a criança em mim a atravessar a rua e as fases de impasses desta vida.

Vento bom que me inspirou. Levantou a folhagem do meu quintal feito manhã de outono. Sua festa sacudiu o meu varal. Espalhou pelo chão as estrelas que eu pendurei. Disse que vontade que nasce no peito tem que vir do chão e criar raiz.

Obedeci ao vento, me rendi como aprendiz. Estou pendurando planos e abraçando sonhos. Estou rasgando listas e multiplicando vontades. Largando as bordas do que conheço e indo ao encontro do que ainda não vi.

Estou deixando de temer pelo futuro e botando fé naquela intuição gostosa que diz que ele pode ser bom. Deixo de seguir por caminhos já trilhados e de me guiar pelo que esperam de mim. Desato os nós dos desejos abafados por dentro e curso os ditados pelo coração.

Minha bagagem está cheia do brilho da imaginação. Cheia de uma paz conquistada e de uma alegria ousada. Cheia de tempo pra ser inteira e pra olhar ao redor.

E não abandono a razão que existe em mim. Meus passos são conscientes. Meu jogo é pra ganhar. Visto meu sorriso, perco minhas chaves, me desfaço de mapas, me jogo na berlinda da vida e vou. E vôo.

O vento que passou por aqui me ensinou a voar. Um vento chamado coragem."

Yohana Sanfer

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